Administrador, Doula da Morte, Psicanalista Clínico e Terapeuta Integrativo. Facilitador do CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) onde é aluno do Lama Padma Samten desde 1998. Participa do Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco desde seu lançamento em 2012. É membro da Ordem Zen Peacemaker onde é aluno do monástico Soto-Zen, Sensei Jorge KOHO Mello. Fundou e facilita a Comunidade RIOZEN Brasil (de Afetos, Estudos e Práticas de Compaixão, Meditação e Espiritualidades Socialmente Engajadas) onde é o seu confrade budista.

A FÉ É POLÍTICA (desde que o mundo é mundo, inclusive hoje)

Quando pensamos em política e religião, é bem normal ver as pessoas virarem a cara para uma propensa união entre elas. Inclusive em ambientes em que seria normal se pensar nisso, como, por exemplo, no Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco, grupo que reúne lideranças religiosas e não-religiosas em defesa do Estado Laico e Democrático, que respeite de fato a nossa Diversidade Religiosa. Participo dele desde seu lançamento em 2012, representando o Budismo, me unindo com pessoas de diversas religiões, da academia e de diferentes organizações e órgãos de governo e de classe.

Não raro, escuto que não devemos misturar religião com política. Mas, concordando com a minha amiga e confreira cristã da Comunidade RIOZEN Brasil, a teóloga feminista e afro-indígena Lílian Conceição da Silva, devo dar de ombros nesta hora e afirmar sonoramente: “a fé é política!”. Se olharmos as figuras mais ilustres destas duas religiões que citei até o momento, o Cristianismo e o Budismo, vamos ver alguns exemplos claros disto. Jesus Cristo, com sua revolução amorosa, andava com e entre os pobres, livrava uma mulher adúltera do apedrejamento (situação que a lei da época permitia) e irritou tanto os religiosos e
governantes da época que foi preso e assassinado pelo Estado. Será que esta fé inspirada pelas palavras e ações de Jesus não tinha um caráter político, de mudar a realidade das pessoas (principalmente das pobres e marginalizadas) e a sua relação com
o ambiente em que viviam desde suas origens?

No caso de Sidarta Gautama, o buda histórico de nosso tempo, conhecido como Buda Sakiamuni, alguns exemplos de sua vida e ensinamentos também reforçam isso. Numa Índia de 2.600 anos atrás, onde a questão daquele tempo passava por se questionar se a mulher teria alma ou não e era completamente dependente do homem para tudo, o Buda não só permitiu as mulheres ingressassem em seu séquito como ordenou monjas e acolheu praticantes leigas. É conhecido o fato dele ter aceitado praticantes que eram provenientes da “casta” mais inferior, que eram proibidos de tocar até a sombra dos outros e, inclusive, se um noviço chegasse, ainda que fosse um rei ou príncipe, poderia ser instruído por um monge mais antigo que tivesse vindo desta casta mais baixa. Isto subvertia inteiramente os costumes e tradições da época, e, respeitando as devidas proporções, eram exemplos de
revoluções sociais existentes num tempo muito antigo.

Desta forma, ao perceber o que aconteceu nos últimos anos em diferentes esferas do Estado, a necessidade de nos unirmos todos (todas e todes) em diversidade em prol da defesa do Estado Laico, Democrático que respeite de fato a Diversidade Religiosa,
evitando coisas como a colocação de um Ministro no STF por ser “terrivelmente evangélico” ou deixar que ações de políticas públicas de governo privilegiem uma religião em detrimento das demais ou coloquem proselitismo religioso como um tipo de tratamento de dependentes químicos ou ainda, que estas visões distorcidas de fundamentalistas religiosos impeçam o cumprimento efetivo das Leis 10.639/05 e 11.625/08 (que versam sobre a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Africana, Afro-Brasileira e Indígena” no currículo escolar com ênfase nas disciplinas de História, Arte e Literatura,
objetivando a educação para as relações étnico-raciais) são movimentos que devemos fazer sem pestanejar. Cabe lembrar que o incêndio do Terreiro de Salinas, no primeiro dia do ano de 2022, na cidade de São José da Coroa Grande ainda continua não resolvido e que este é um exemplo claro de como o discurso de ódio pode estimular a multiplicação de atos violentos contra pessoas e comunidades que já são historicamente perseguidas e marginalizadas, como é o caso dos Povos e Religiões de Matriz Afro e/ou Indígena, das pessoas negras, periféricas e LGBTQIAPN+.

Assim, encerro esta minha primeira coluna, aspirando que estas poucas palavras que escrevo rapidamente possam ajudar e inspirar, ao menos um pouco, o movimento de afetos, reflexões e ações no sentido de que possamos unir diversidades em harmonia para um Bem Viver real e tangível para todes. Que tudo possa ser auspicioso!

Administrador, Doula da Morte, Psicanalista Clínico e Terapeuta Integrativo. Facilitador do CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) onde é aluno do Lama Padma Samten desde 1998. Participa do Fórum DIÁLOGOS da Diversidade Religiosa em Pernambuco desde seu lançamento em 2012. É membro da Ordem Zen Peacemaker onde é aluno do monástico Soto-Zen, Sensei Jorge KOHO Mello. Fundou e facilita a Comunidade RIOZEN Brasil (de Afetos, Estudos e Práticas de Compaixão, Meditação e Espiritualidades Socialmente Engajadas) onde é o seu confrade budista.

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