
A recente ativação da bandeira tarifária vermelha patamar 2 pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL, com acréscimo de R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, evidencia um cenário de escassez energética que afeta diretamente o bolso do consumidor de energia elétrica. A redução das afluências para as hidrelétricas e o aumento da dependência de fontes mais caras, como as termelétricas, revelam a fragilidade do sistema energético nacional (Broadcast Energia, 2025).
Paralelamente, observa-se um crescente incentivo à adoção de veículos elétricos (VEs), promovidos como solução ambiental para a redução das emissões de carbono. De fato, os VEs apresentam maior eficiência energética e podem ser alimentados por fontes renováveis (U.S. Department of Energy, 2018). No entanto, é preciso confrontar essa tendência com a realidade da infraestrutura elétrica brasileira e com nossa legislação.
A expansão da frota de veículos elétricos implica maior demanda por energia, especialmente nas redes de baixa tensão, que já enfrentam desafios de sobrecarga em horários de pico. Estudos realizados demonstram que a recarga não controlada desses veículos pode agravar ainda mais a situação de escassez energética, exigindo investimentos significativos em planejamento e modernização da rede (ABVE, 2023).
Mesmo que se desprezem as contingências atuais, como a sazonalidade das chuvas ou variações momentâneas no consumo, faz-se necessário refletir sobre a coerência entre os incentivos aos VEs e a capacidade real do sistema elétrico nacional. A adoção de tecnologias sustentáveis deve ser acompanhada de políticas públicas que garantam a viabilidade técnica e econômica de sua implementação, evitando que soluções ambientais se tornem novos problemas estruturais.
Diante desse cenário, é razoável que a transição energética seja conduzida com responsabilidade e visão de longo prazo. Incentivar veículos elétricos é um passo importante, mas deve vir acompanhado de investimentos em infraestrutura, educação energética e planejamento urbano. Apenas desta maneira poderemos construir uma sociedade sustentável, onde inovação e viabilidade caminhem lado a lado, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a população, de forma geral.