Tudo era sertão, tudo era canção, tudo era poesia. De repente, o olhar se estreita como um fio de laser e mira um ponto fixo, lá num canto da plateia. Era o vulto esvoaçante de uma linda borboleta. Uma mariposa branca. Diz a lenda que as mariposas brancas são raríssimas e quando aparecem é sinal de paz.
Uma sensação inquietante, a partir dali, mudaria o roteiro de um espetáculo, que evoluiu de um simples concerto para uma ópera em vários atos, sendo que, cada ato começava pela deixa do ato anterior. Se agigantou, se fez poema, virou serenata e orquestrou uma sinfonia repleta de acordes dissonantes, para servir de pano de fundo ao teatro da vida. Era pra ser só o vulto de uma mariposa, apenas um vulto.
Uma miragem, um flash, um flerte, um relâmpago qualquer. Era pra ser só um som, um sereno. Aí nublou, trovejou, choveu, se fez riacho, virou rio, transbordou, entrou num remanso e desaguou num mar de águas cristalinas. Içou as velas; uma corrente de ar o tangeu ao porto cais, entoando no eco de sua imensidão uma melodia vinda dos sertões, trazendo em seus sons, fragmentos de uma ária orquestrada pelos deuses para compor a música da dança das borboletas.