O Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu no começo deste mês, ao tratar do tema Linguagem Neutra, que sua adoção “alteraria a estrutura do português que aqui se fala”. A conclusão foi de que “trata-se de um fenômeno ainda incipiente”, no Brasil de hoje, e “só pessoas ligadas ao núcleo em que nasceu usam” tal linguagem.
O Presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, também contra essa Linguagem, declarou que “os documentos oficiais devem seguir as normas oficiais vigentes”. Ainda, que “professores não podem obrigar alunos a usar essa linguagem, por nada haver que obrigue a isso”.
Trata-se de tema complicado. Por haver grupos, socialmente bastante ativos, que consideram ser a explicitação do preconceito. Sobretudo sexista. Não muitos ainda, graças. Um dogma, para esses, que sequer admitem questionamentos.
A posição da ABL contra essa Linguagem Neutra é, por tudo, corretíssima. E cumpre ver a questão com mínimos de bom-senso. Nesse sentido, alinho alguns apontamentos que fui buscando, pelo caminho, aqui ou ali. Do ponto de vista da linguagem, cumpre anotar quatro regras bem simples:
1. Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos, quanto femininos, independentemente da letra final da palavra: agradável, doente, feliz, inteligente.
2. Algumas escolhas, dessa linguagem, não fazem qualquer sentido. Como dizer PresidentA. Por não haver nenhum PresidentO, no cargo. Há só PresidentE, que já é uma palavra neutra. Usada para qualquer gênero, O Presidente, A Presidente.
3. Terminar uma palavra com a letra “E” não importa seja, necessariamente, neutra. Basta ver a alface, o elefante.
4. Na essência, não faz diferença mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos, em busca de uma linguagem neutra. Que o gênero, regra geral, não é definido pela palavra, mas pelo artigo que acompanha essa palavra: o motorista, o poeta, a ação, a impressão.
Para conseguir a neutralidade, por isso, precisaríamos criar também um artigo neutro. Só que a língua portuguesa não aceita esse gênero neutro. Seria necessário, então, mudar o próprio idioma, todo ele, pra combater o dito preconceito e usar a tal linguagem neutra. É muito. Não vale a pena.
Em resumo, perdão para quem pense diferente, melhor continuar tudo como está. E deixar esse debate para mais tarde.
P.S. Mexer na língua é sempre complicado. Em 1938 se discutia, na Academia Brasileira de Letras, o Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal. E o pernambucano Manuel Bandeira era contra. Certo dia, irritado com um debate sobre a eliminação de todos os acentos diferenciais, saiu mais cedo e os repórteres perguntaram o que achava daquilo tudo. Ele respondeu, na hora:
‒ Por mim, tudo bem; que, para o poeta, a forma é fôrma.
Deu um risinho e completou
‒ Agora escrevam isso aí sem o acento diferencial.