Consultor da UNESCO e Banco Mundial. Presidente do CADE, da EBN ( Tv Brasil ) e do Conselho de Comunicação Social (do Congresso Nacional). Membro da Comissão Nacional da Verdade. Ministro da Justiça da Academia Portuguesa de Letras. Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras.

TODOS, TODAS, TODES

O Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu no começo deste mês, ao tratar do tema Linguagem Neutra, que sua adoção “alteraria a estrutura do português que aqui se fala”. A conclusão foi de que “trata-se de um fenômeno ainda incipiente”, no Brasil de hoje, e “só pessoas ligadas ao núcleo em que nasceu usam” tal linguagem.

O Presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, também contra essa Linguagem, declarou que “os documentos oficiais devem seguir as normas oficiais vigentes”. Ainda, que “professores não podem obrigar alunos a usar essa linguagem, por nada haver que obrigue a isso”.

Trata-se de tema complicado. Por haver grupos, socialmente bastante ativos, que consideram ser a explicitação do preconceito. Sobretudo sexista. Não muitos ainda, graças. Um dogma, para esses, que sequer admitem questionamentos.

A posição da ABL contra essa Linguagem Neutra é, por tudo, corretíssima. E cumpre ver a questão com mínimos de bom-senso. Nesse sentido, alinho alguns apontamentos que fui buscando, pelo caminho, aqui ou ali. Do ponto de vista da linguagem, cumpre anotar quatro regras bem simples:

1. Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos, quanto femininos, independentemente da letra final da palavra: agradável, doente, feliz, inteligente.

2. Algumas escolhas, dessa linguagem, não fazem qualquer sentido. Como dizer PresidentA. Por não haver nenhum PresidentO, no cargo. Há só PresidentE, que já é uma palavra neutra. Usada para qualquer gênero, O Presidente, A Presidente.

3. Terminar uma palavra com a letra “E” não importa seja, necessariamente, neutra. Basta ver a alface, o elefante.

4. Na essência, não faz diferença mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos, em busca de uma linguagem neutra. Que o gênero, regra geral, não é definido pela palavra, mas pelo artigo que acompanha essa palavra: o motorista, o poeta, a ação, a impressão.

Para conseguir a neutralidade, por isso, precisaríamos criar também um artigo neutro. Só que a língua portuguesa não aceita esse gênero neutro. Seria necessário, então, mudar o próprio idioma, todo ele, pra combater o dito preconceito e usar a tal linguagem neutra. É muito. Não vale a pena.

Em resumo, perdão para quem pense diferente, melhor continuar tudo como está. E deixar esse debate para mais tarde.

P.S. Mexer na língua é sempre complicado. Em 1938 se discutia, na Academia Brasileira de Letras, o Acordo Ortográfico entre Brasil e Portugal. E o pernambucano Manuel Bandeira era contra. Certo dia, irritado com um debate sobre a eliminação de todos os acentos diferenciais, saiu mais cedo e os repórteres perguntaram o que achava daquilo tudo. Ele respondeu, na hora:

‒ Por mim, tudo bem; que, para o poeta, a forma é fôrma.

Deu um risinho e completou

‒ Agora escrevam isso aí sem o acento diferencial.

Consultor da UNESCO e Banco Mundial. Presidente do CADE, da EBN ( Tv Brasil ) e do Conselho de Comunicação Social (do Congresso Nacional). Membro da Comissão Nacional da Verdade. Ministro da Justiça da Academia Portuguesa de Letras. Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras.

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