A aridez é o estado térmico de sua sobrevivência. É a temperatura ambiente do seu estado de espírito. Mas isso não torna seu coração infecundo.
O mormaço evapora sua teimosia fazendo o sangue correr livremente pelas veias, irrigando o sonho, encharcando-lhe o peito de esperança e de fé.
Está cansado de tanto abrir cancelas, destravar tramelas e derrubar cercas; mas não desiste da ideia de ver um dia o seu sertão sombroso, sem chicotes, sem cabrestos e sem esporas.
Pelos prados, a crina dos tiranos desfila sobre a estupidez da mais valia. Manda quem pode, obedece quem mais precisa. Nasce aí a subserviência.
Essa é a sina dos que não têm pasto e matam a sede nos barreiros de quem têm. Dizem que a fé remove montanhas; talvez, mas a fé que alimenta o pobre é a mesma que faz os seus algozes alargarem seus latifúndios e estreitarem cada vez mais os sete palmos de terra que restam para os que não têm nem onde morto cair.
O sol ardente, a terra seca, essa quentura, esse mormaço, tudo vai esturricando a esperança, enquanto a sombra torna-se privilégio para uma minoria que não sabe dividir, nem tampouco sabe o que é nunca ter tido nada…