Tocam-se os clarins. Os estandartes vão surgindo como num passe de mágica, e as cores vão invadindo a alma das pessoas, colorindo nossos olhos e jogando confetes na autoestima de cada folião. Portas e janelas vão-se abrindo. Aos poucos, o riso vai-se estendendo pelas calçadas, desenhando máscaras e enchendo o mundo de cor e fantasia.
Rufam-se os tambores. No pátio do terço, o baque solto dos maracatus pulsa nos corações afros, vestidos de lantejoulas, acorrentados pelas serpentinas e unidos pelo batuque negro de suas tribos, dando vida e beleza à festa do Momo. Reis e rainhas desfilam pelo bairro de São José em um andor feito de gente. Gente que sonha, gente que brilha, gente que não nega a cor. Os flabelos bailam.
Os pendões da alegria se encontram. Um coral entoa canções de amores ao som de uma bandinha de pau e cordas, abrandando os ânimos e trazendo o romantismo para o meio da rua. As pessoas se abraçam, se tocam, se beijam e sorriem umas para as outras como se já se conhecessem de outros carnavais.
A multidão segue o som metálico da primeira orquestra que passa, arrastando os foliões como se houvesse um imã em cada instrumento, soprando um frevo frenético, fazendo se mexer cada paralelepípedo e balançando o chão, para que mesmo quem esteja estático, entre na dança. E assim vai o primeiro dia, o segundo, o terceiro, até chegar a quarta-feira. Uns se dão para si, outros se entregam ao frenesi, alguns viram purpurina e o resto vira cinza.