Antes mesmo da pandemia da covid-19 os portos sempre precisaram lidar com atrasos provocados por questões climáticas, mas quando a crise sanitária chegou ao Brasil, somando-se ao agravamento de uma crise global de abastecimento, ainda em recuperação, naturalmente os portos brasileiros foram impactados. Por consequência, o congestionamento de navios provindos do exterior, sobretudo os que vinham da China e Europa, enfrentaram dramaticamente o desafio logístico de prover, adequadamente, a descarga e o carregamento de mercadorias nos portos brasileiros: a falta de contêineres foi evidente.
O potencial deterioramento e perda de cargas perecíveis, aumento nos custos dos exportadores e importadores com o sobrepreço dos aluguéis de contêineres não devolvidos ou remetidos fora prazo ajustado, e o justo acréscimo do custo do armazenamento nos recintos portuários, acarretados pelo congestionamento nos seus espaços de estocagem, pôs em risco a credibilidade e confiança dos produtores e produtos made in Brazil frente aos seus parceiros internacionais.
Sendo uma contingência conjuntural e provisória, acreditou-se que, ao longo do tempo, a cadeia de suprimentos global voltasse à normalidade. Contudo, o problema em diversos portos continuou: a logística do desenvolvimento no comércio exterior no Brasil ainda sofre com a falta de contêineres. Não obstante, nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações brasileiras do agronegócio alcançaram recorde de US$ 50,6 bilhões, o que representa um crescimento de 4,3% na comparação com o mesmo período em 2022, quando as vendas foram de US$ 48,53 bilhões, o custo das armazenagens não baixou.
Mas a visão de crescimento e competitividade, enfim, bateu à nossa porta. Com a recente nomeação do pernambucano Silvio Costa Filho ao Ministério de Portos e Aeroportos e sua estreita relação com o Governo do Estado, atual gestor do Porto de Suape, foi anunciada no início deste mês pela governadora Raquel Lyra e o Ministro, a autorização para viabilização de um novo terminal de contêineres no Complexo Industrial Portuário de Suape, a ser instalado pela APM Terminals, com investimento aproximado de 1,6 bilhões de reais.
As obras estão planejadas para serem iniciadas em 2024. Previsto para ser o 1º terminal 100% eletrificado da América Latina, com funcionamento oficial em 2026. No meu sentir, mais um plano que, agregado à expansão da Transnordestina no estado, poderá colocar Suape no epicentro logístico do Nordeste, facilitando o envio do produto produzido em PE para o mundo, além de competir fortemente com o Porto de Pecém, que, por sinal, já caminha a passos largos nos investimentos em zonas de processamento de exportação e implantação de Hubs de Hidrogênio Verde.
Para Edmilton Ribeiro, despachante aduaneiro e delegado da ADAB, o terminal vai inaugurar rotas diretas com a China, Europa e Estados Unidos, beneficiando especialmente as exportações de frutas do Vale do São Francisco. Isso porque, atualmente, muitas exportações de frutas produzidas em Pernambuco acabam sendo redirecionadas para o Porto de Pecém ou Porto de Salvador, em parte devido ao monopólio da estatal filipina TECON Suape e as elevadas taxas de concessões impostas, tornando-o um dos terminais de contêineres mais caros do mundo.
O novo terminal, então, não poderia chegar a Suape em momento mais oportuno: hoje, os terminais operam perto de sua capacidade máxima, resultando em atrasos logísticos, comprometendo não só os prazos do desembaraço aduaneiro (já sofrido com a alta demanda de chegada e saída de produtos e pouca quantidade de auditores federais na fiscalização), como também afeta negativamente as importações, já que a logística se torna mais custosa e complexa para os operadores do comércio exterior.