Não, não vou embora pra Pasárgada. Aqui é o meu lugar. Quero sonhar, soltando pipas sob o céu azul, brincar, sendo criança, pelos arvoredos, botar minha roupa debaixo de uma pedra e dar um mergulho flecheiro, fazendo das galhas dos jequitibás trampolins e nadar nos aquários de Deus.
Não, não vou embora pra Pasárgada. Não quero ser amigo do rei, posso até andar de bicicleta. Quero pisar no chão do lugar onde eu nasci, amolar a fé e cegar a serra elétrica, que insiste em derrubar os troncos que sombreiam as nascentes dos rios.
Não, não vou embora pra Pasárgada. Aqui também tem Joanas Loucas e falsas rainhas, ladeando falsos Reis. E mesmo que eu esteja triste, não me matarei.
Não, não vou embora pra Pasárgada. Lá eu poderia escolher a melhor cama, a melhor mulher. Mas aqui eu posso escolher o melhor caminho, mesmo tendo que driblar a morte, e ouvir os arrotos arrogantes da garganta rouca do imperialismo.
Não, não vou embora pra Pasárgada. Aqui tem telefone automático, alcaloides e mulheres bonitas. Aqui tem samba, tem mulatas, futebol, tem carnaval. Tem negros, tem índios, tem gente de toda cor.
Não, não vou embora pra Pasárgada. Vou ficar aqui, na coxia, escutando a orquestração da mata, esperando a hora da orquestra tomar a batuta do maestro e reger sua própria sinfonia.
Não, não vou embora pra Pasárgada.