Seguem mais anotações.
1. ESTADOS UNIDOS. Algumas observações são do economista Ricardo Amorim (Depois da tempestade); e as restantes minhas, que estudei no país (em Harvard) e sempre volto lá. Como a maioria dos leitores não tem ideia precisa de como funcionam as coisas, tão longe de casa, vão aqui informações curiosas sobre sua economia:
• Idade mínima de aposentadoria paga pelo governo, sem exceção, é 67 anos. E a tendência é ser cada vez mais tarde.
• Na média, o valor dessa aposentadoria oficial é menos da metade do último salário. Razão pela qual o trabalhador tem que se preparar ao longo da vida, juntando grana, para ter algum complemento de renda na velhice. Ou, então, vai penar.
• O salário mínimo, de 7,25 dólares por hora, não teve reajuste, no país, desde 2009. Nem há projetos de ter, no futuro próximo.
• O salário dos brasileiros que por lá estão trabalhando é de, no mínimo, 200 dólares. Mas quase sempre acaba sendo bem mais.
• As questões entre empregados e patrões são todas resolvidas com negociações dentro da própria empresa. Em alguns casos, com participação de sindicatos. Sem Justiça, no meio.
• Não existe, ali, a regra dos 30 dias de férias anuais. E adicional das tais férias, como no Brasil, esqueça.
• Mulher, ao nascer filhos, tem direito até a 12 semanas de licença maternidade. Problema é que, enquanto não voltar ao trabalho, sua remuneração vai ser zero. E, no mundo real, ninguém passa tanto tempo longe.
• 13º salário, Zero.
• Adicional noturno, zero.
• Estabilidade no emprego, zero.
• Carteira de Trabalho, zero.
• Justiça do Trabalho, zero.
Isto posto, alguém estaria disposto de abandonar o Brasil para ir morar lá?, eis a questão.
2. SINDICATOS. Não são muitos, em canto nenhum. Os Estados Unidos têm o maior número, 191. Só pouco mais que África do Sul, 190; Reino Unido, 168; Dinamarca, 161; Argentina, 91. A média, no mundo, não chega a 100. Em Portugal, por exemplo, tentei por todos os meios saber e o governo silencia. “Não chega a 100”, respondem. E no Brasil? Seriam em torno de 16.700. Por favor não ria, leitor amigo, mas cerca de 90% dos sindicatos do planeta estão por aqui.
Qual a razão?, é simples. Dando-se que, nos outros países, só paga sindicato quem se associa. No Brasil era obrigatório ‒ Imposto Sindical, assim se chamava ‒, correspondente a um dia de trabalho/ano. E assim foram nascendo sindicatos, por todo canto, como uma boquinha garantida. Até que, na Reforma Trabalhista de 2017, também adotamos essa regra de pagamentos só de quem quiser fazer parte deles. Para uma ideia dos montantes que representaram, no último ano de Imposto Sindical obrigatório, as Centrais Sindicais receberam: CUT, 62,2 milhões; Força Sindical, 51,3; UGT, 46; NCST, 24,2; CTB, 15,4; CSB, 14,1 milhões.
Sem contar que vivemos um sistema de “Unicidade Sindical”, em que só pode haver um sindicato por categoria profissional. Impedindo a competição, entre eles. Diferente do resto do mundo. Agora, o novo governo brasileiro quer voltar o tal Imposto Sindical obrigatório, com outro nome, para alegria dos sindicalistas profissionais que vivem dele. E o Supremo já se apressou em colaborar com essa trama, como sempre nos últimos tempos. E tudo por cima da decisão do Congresso que, numa Democracia, deveria ser respeitada.
Olhando para a grandeza dos números, e para a voracidade com que os sindicalistas reivindicam, lembro o amigo Millôr (Nelson Rodrigues dizia que a frase era dele, um dia vou relatar a versão que o próprio Millôr me contou, bem mais confiável), num artigo do JB, “dinheiro compra tudo, até amor sincero”. Compra mesmo.
3. NELSON DA MASTERBOI. Nelson Bezerra, empresário no ramo dos frigoríficos, tem um em Canhotinho (Pernambuco) com abate diário de mais que mil bois. Estava num restaurante, em Boa Viagem, falando no celular com seu gerente. Só que a ligação estava péssima, quase não dava para ouvir, e tinha que falar bem alto. O problema relatado é que havia, naquele momento, só pouco mais de 40 cabeças disponíveis. O gerente queria saber se faria o abate logo ou melhor esperar por mais bois, para agilizar a produção. E Nelson, aos gritos,
‒ Mate todos! Agora!! Pode matar!!!
Foi um pandemônio. Pois todos os frequentadores do lugar, pensando que os mortos seria pessoas como eles, foram embora correndo. Na hora. Com medo (talvez) de serem os próximos.
José Paulo Cavalcanti Filho
jp@jpc.com.br