É capelão da Igreja das Fronteiras, chão sagrado onde viveu Dom Helder Câmara. Também é presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife e assessor para o mesmo tema no Regional CNBB-NE2. É membro da Comissão de Justiça e Paz da mesma arquidiocese, tendo coordenado o seu processo de reinstalação. Também representa a Igreja Católica no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC-PE e no Fórum Diálogos Inter-religioso de Pernambuco. É ainda membro do Instituto Dom Helder Camara- IDHeC

ANO NOVO: GRAVAR NUM DISCO VOADOR.  LANÇAR NO ESPAÇO SIDERAL

Eu vou fazer uma canção pra ela. Uma canção singela, brasileira. Para lançar depois do carnaval. Eu vou fazer um iê iê iê romântico. Um anticomputador sentimental. Eu vou fazer uma canção de amor.  Para gravar num disco voador. Eu vou fazer uma canção de amor. Para gravar num disco voador. Uma canção dizendo tudo a ela. Que ainda estou sozinho, apaixonado. Para lançar no espaço sideral

Caetano Veloso canta na sua música “Não Identificado”, gravado por ele em 1969 e um ano antes, por nada mais nada menos pelo corpo e voz de Gal Costa, que ele, o filho de Dona Canô, ia gravar um disco não numa gravadora e tão pouco lançar na rádio ou na televisão. Esse cara é genial! Conectado desde aquele tempo e, que o diga, logado mais ainda agora no seu último álbum. Tá ligado? Penso e sinto o mesmo. É preciso inventar e se reinventar o tempo todo. Precisamos mais do que a lua se reinventar nova, crescente, gibosa, cheia, minguante. Teimosamente se inventar cotidianamente com o sol.  Esta canção se tornou para mim como um hino de ano novo.

Mais do que nunca, com o avanço das iníquas ondas cheias de ódio   é preciso inventividade intelectual e afetiva proposta por esta canção. Igualmente, com o aumento da pobreza e o desequilíbrio ecológico, é necessária muita criatividade cheia de amorosidade, sabedoria e força para o enfrentamento das injustiças ecossociais que a humanidade clama e a terra geme. Ao mesmo tempo, com o adoecimento físico, psíquico e espiritual que nos entristece e nos angustia, que nos deprime e causa ansiedades e outras dores, a gente tem que ter mesmo esse engenho de gravar um disco voador e lançá-lo no espaço sideral com uma canção de amor, brasileira.

É cantar de Caetano a Dalva de Oliveira que, naquela “Marcha de quarta-feira de Cinzas”, não via mais ninguém a sorrir, a se abraçar, a se beijar, a cantar e a dançar cantigas de amor, mas, nos juntamos agora eu e você, leitor e leitora amiga/a a essa Diva, e cheia de esperança entoar fortemente que, no entanto, é preciso cantar “Mais que nunca é preciso cantar. É preciso cantar. E alegrar a cidade. A tristeza que a gente tem. Qualquer dia vai se acabar. Todos vão sorrir. Voltou a esperança. É o povo que dança. Contente da vida feliz a cantar”. Das folhas cibernéticas deste artigo ainda que o ódio, mesmo que as agressões e mesmo assim com tantos opressores e oprimidos no país e no mundo, nós, sem alienação, “enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”, Belchior, pois a gente vai sorrir de novo.  “Vê, como é bonita a vida. Vê, há esperança ainda. Vê, as nuvens vão passando. Vê, um novo céu se abrindo. Vê, o sol iluminando. Por onde nós vamos indo”. Que tal a gente escutá-las em uma dessas plataformas digitais? Sim, é preciso o hábito de cantar e dançar, ainda que sozinho. Por isso, em 2024, cante e dance bem muito.

2024. Vamos gravar num disco voador, muita criatividade. 2024. Vamos lançar músicas no espaço sideral, bastante inventividade. 2024.  Vamos cantar uma canção de amor copiosas de engenhosidades. Caetano diz no show em sua terra: “Canta, Santo Amaro!” Eu, parafraseando-o, digo:  “Canta, Recife!”. Canta, Brasil e mundo inteiro porque “a verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” como na canção tão antiga e tão nova do Salmo 85.  

A frase de começo desta canção de amor será a mesma do início do livro bíblico dos Cânticos dos Cânticos, do Amado cantando para Amada, “beija-me com os beijos de tua boca”. Quando a gente estiver cantando e dançando em ciranda e coco, frevo e maracatu, samba e bossa, baião e xaxado, hip-hop e rap, reggae e brega, clássica e pop, forró e rock roll e toda diversidade musical, me lembrarei então, dos salmistas bailando com címbalos sonoros o Salmo 125 “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”. 

Padre Fabio Potiguar Santos

É capelão da Igreja das Fronteiras, chão sagrado onde viveu Dom Helder Câmara. Também é presidente da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife e assessor para o mesmo tema no Regional CNBB-NE2. É membro da Comissão de Justiça e Paz da mesma arquidiocese, tendo coordenado o seu processo de reinstalação. Também representa a Igreja Católica no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC-PE e no Fórum Diálogos Inter-religioso de Pernambuco. É ainda membro do Instituto Dom Helder Camara- IDHeC

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