Consultor da UNESCO e Banco Mundial. Presidente do CADE, da EBN ( Tv Brasil ) e do Conselho de Comunicação Social (do Congresso Nacional). Membro da Comissão Nacional da Verdade. Ministro da Justiça da Academia Portuguesa de Letras. Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras.

CINTILOGRAFIA DO MIOCÁRDIO

Cláudio Manuel, filho do grande José Cláudio (os dois pintores), é mais conhecido como Mané Tatú. Um apelido que vem desde os tempos em que podia pegar o bicho do mato, e comer, sem cometer crime inafiançável. Foi fazer esse exame, Cintilografia do Miocárdio, para “avaliar o fluxo sanguíneo nos vasos e artérias que irrigam o coração”, e contou como foi.

Lembro de outro amigo querido, João Ubaldo Ribeiro, autor de Viva o Povo Brasileiro e cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras. Estávamos todos em Ipanema, grupo grande (Millôr e companhia), almoçando na cobertura de Eliene e Chico Caruso – gênio desenhista, da Globo. Foi a pessoa mais engraçada que conheci. E decidiu contar um exame na próstata que fez. Levantou e passou mais de uma hora explicando. O exame de Mané Tatú lembrou as agonias do João Ubaldo. Como escreveu tudo e me mandou vou dividir aqui, com os leitores, a narrativa dessa experiência.

 “Foi como a maratona. Dei entrada na recepção. Uma amiga ficou nas cadeiras, depois chegou junto. Acompanhamento até pagar, de 1.900 por 1.805. Moça simpática, Cintia, colocou a pulseira para identificar pacientes em atendimento. Entramos nós três na área das salas e cadeiras e máquinas. Alaska é mais quente. Conferir nome, data nascimento, etc., pulseira.

“A amiga foi convidada a sair por causa das radiações. Ficou vindo me ver, de vez em quando, não sei como deixaram. Foi bom porque o celular fica sem sinal. Alex, o enfermeiro, me levou para colocar bata nua. Uma coisa ridícula. Depois colocar o acesso, foi dor demais, errou, veia estourou, tapei os olhos, sangue. Eu disse porra, puta que o pariu, tá doendo caralho. Tirou. Ele disse abra o olho só quando eu terminar. Tentou outra veia e, milagre, acertou. Finalmente limpou tudo, entrada na mão direita. Aplicou soro gelado. Aplicou contraste. Dez voltas no recinto, para espalhar a droga. Fui pra sala de espera, etapa A.

“Tomar três copos d’água. Uma hora de espera. Sala com seis adultos mulheres e homens, todos de bata. Todos igualmente com acessos. Das 13:00 às 16:00hs. Chamados sra. Fulana, sr. Beltrano, e assim a fila andava. Seu Cláudio. Fui lá. Banheiro, xixi. Medo. Nervoso. Primeira vez na xscam. Deitado. Imóvel. Não pode respirar fundo. Não pode tossir. Não pode mexer. Vai começar. Eu disse pare, quero tossir. Vai começar.

“Começou. Fique imóvel por 12 minutos. Pode fechar o olho. Mas não durma. Demora anos, esses 12 minutos. Terminou. Me ajuda a levantar. Sala de espera, uma hora.

“Seu Claudio, segunda etapa. Esteira com fios e contraste. Sem bata. Chega o médico, Dr. Eduardo Paixão. Olá, boa tarde, aguenta andar? Sim, pouco. Quando cansar avisa, ok. Eletrodos. Contraste novamente. Começou. Olha pra frente. Segura sem fazer força nas mãos. Tudo bem com o senhor? Sim. Acabou. Vá pra sala de espera.

“Etapa 3. Mais uma hora de espera. Terceira máquina. Deitado. Mais um copo de líquido. Doze minutos imóvel. Terminou. Tira acessos. Pode ir. 16:40hs saímos. A amiga disse que dormiu, acordou, foi lá me ver e tal. Tinha uma senhora de uns 80 anos, bem abusada. Que demora! Que demora! De três em três minutos ela dizia Mônica Brito. Disse que foi operada em Atlanta por dr. Pacífico. Pedi licença para peidar.

“Aí falei, de maneira educada, minha senhora preciso ir lá fora para rezar. Ela não entendeu e disse não pode. Reze dentro da área. Resultado. Fui rezar (digamos assim) quatro horas depois. Que sufoco. Abraços. Mané, como eu previ, teu exame foi normal. Está indo bem. Fique tranquilo. Não estou escondendo nada. Tudo está sendo feito com critérios e cuidados. Para garantir sua segurança, o médico André Valença respondeu”.

Em resumo, nosso Mané sobreviveu. Escapou, talvez seja uma descrição mais adequada. João Ubaldo, faltou dizer, não tinha nada. O exame foi inútil. A humilhação, na dedada que tomou, desnecessária. Com Mané Tatú deu-se algo semelhante. Está em plena forma. Pronto pra outra. Viva Mané!!!  O risco é ter que repetir, qualquer dia desses, acontece.

P.S. No Mercado de Campo de Ourique (de Lisboa, nosso preferido), em meio a cerejas do Fundão e melões Pele-de-Sapo, apareceu agora côco. Alvíssaras. Vendido, aqui, por 14,50 euros o quilo. Maria Lectícia comprou um que tinha cerca 1,1 quilos. Traduzindo, saiu por mais de 100 reais. E a gente reclamando quando, em Boa Viagem, o barraqueiro cobra 2, 3, 5 reais por um… A explicação, para o preço, é que “vem do Brasil”. Deus do céu. Amargo côco.

José Paulo Cavalcanti Filho

jp@jpc.com.br

Consultor da UNESCO e Banco Mundial. Presidente do CADE, da EBN ( Tv Brasil ) e do Conselho de Comunicação Social (do Congresso Nacional). Membro da Comissão Nacional da Verdade. Ministro da Justiça da Academia Portuguesa de Letras. Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras.

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