Você está cuidando bem do seu plano de saúde? Esta pergunta deveria ser feita diariamente a todos os usuários do sistema de saúde suplementar. O que muitos desconhecem, é de que o valor do boleto do plano de saúde representa, em sua grande parte, o rateio de todos os gastos realizados pelos usuários em um determinado período.
O termo “sustentabilidade” nunca esteve tão em evidência no setor de saúde suplementar. No ano de 2022, os planos de saúde tiveram um prejuízo operacional de quase 11,5 bilhões, apesar do reajuste das mensalidades nos planos individuais e corporativos. Esse fracasso é justificado pela ANS, como o aumento da relação entre os gastos com assistência e a receita gerada, denominada de sinistralidade. Acredita-se que os numerosos casos de COVID-19 e a retomada dos atendimentos eletivos represados, elevaram a taxa de sinistralidade para o nível impraticável de 90,17% no último trimestre do ano passado.
Apesar do número de beneficiários ter aumentado para 50 milhões, houve uma piora acentuada na qualidade das carteiras de clientes. Muitos deles optaram por planos mais simples (fenômeno denominado de downgrade), sem contar com a proliferação de planos de saúde “caça-níqueis” que aproveitam essa época de crise para oferecer serviços irreais.
Erroneamente durante a pandemia de covid-19, houve uma redução de 8,18% nos valores das mensalidades, gerando uma crise de custo operacional sem precedentes. Não contavam com uma tendência de alta nos preços da saúde. Este setor teve uma inflação acumulada de 11,7% ao ano (mais do que o dobro do índice geral – IPCA que foi de 5,79%). Dentre os fatores que impactaram negativamente esses resultados estão: o crescimento da sinistralidade; o fim da limitação de consultas e sessões de terapias ambulatoriais com psicólogos e fonoaudiólogos; aumento do preço dos insumos médicos; obrigatoriedade de tratamentos cada vez mais caros; e fraudes.
Os hospitais privados também sofreram com o impacto desta crise. Foram prejudicados tanto pelo aumento do índice de glosas nas contas, bem como pelo alargamento nos prazos dos pagamentos pelos planos de saúde. Houve um desequilíbrio econômico-financeiro nas contas hospitalares. Uma das saídas para esta situação foi a fusão de planos de saúde com algumas grandes redes hospitalares. Já o sistema de verticalização, onde os planos de saúde fornecem toda assistência em sua rede própria de serviços, foi também uma das respostas de operadoras como as UNIMEDS.
Outro grande ofensor do sistema de saúde suplementar é o poder judiciário. Muitas liminares impõem prazos inadequados e multas estratosféricas. Alguns juízes se baseiam em apenas um único laudo técnico, e tratam como urgências doenças crônicas e ou congênitas. Além disso, ordenam tratamentos milionários para doenças raras, cuja responsabilidade primária seria do Estado.
A corda sempre arrebenta no lado mais fraco que é o consumidor. Atualmente a maioria dos planos estão repartindo o risco e custos com o cliente, através de contratos coparticipativos. A coparticipação é a modalidade na qual o beneficiário compartilha as despesas. Para cada procedimento ou consulta realizada, a operadora tem o direito de pagar apenas uma porcentagem, deixando o restante a cargo do cliente.
Como sou profissional de saúde e pertenço a uma das faces desse prisma, no qual fazem parte também consumidores, hospitais e fornecedores; acompanho o desenrolar dessa equação que não fecha. O cenário atual da saúde pede que este modelo de negócio seja revisto e renovado. Cabe às grandes operadoras investirem em tecnologia na análise de dados; apresentarem uma gestão assertiva e moderna, focada em inovação, senão serão engolidas pelo tempo. Por outro lado, cabe aos consumidores maior consciência na utilização irracional do sistema, que muitas vezes acarretam aumento inevitáveis de mensalidades.
Nesse sentido volto a questionar, você está cuidando bem do seu plano de saúde? Ele representa para você apenas uma carteirinha e um boleto mensal? Vale a pena refletir sobre o assunto!