Em tempos de internet assoberbada por looks mirabolantes, desfiles show-off e tendências “cuspidas” minuto por minuto, em plataformas como Instagram, Tik Tok e Vsco, respirar simplicidade é quase como um pequeno deleite. É, na verdade, um luxo!
Por muito tempo, luxo sempre foi sinônimo de abundância, de suntuosidade excessiva, de supérfluos e excessos. E, no contexto de vida atual, o tal do luxo, ainda, ganha novas roupagens.
Para a Gen Z, como é conhecida a geração que cresceu sob as luzes azuis dos smpartphones, o conceito de luxo vai além da bolsa grifada ou do aparelho telefônico do momento. Ele está presente ali, na quantidade mensurável de likes em uma foto “espontaneamente” postada ; na quantidade de comentários num simples reels ou no quantitativo de followers (seguidores) que se tem nas redes sociais. É simples: o luxo passou a não se contentar em residir apenas em bens materiais.
Para uma gama de adolescentes e jovens adultos – verdadeiros produtos de uma era tecnológica que avança sem freios – usufruir de um lifestyle cheio de conforto e privilégios não mais é suficiente; é preciso mostrar ao mundo aquilo que se é – muitas vezes, por meio do que se tem.
E é possível afirmar que essa narrativa ganhou, ainda, mais força num viés pós-pandêmico. Vejamos.
Por cerca de quase dois anos, nos vimos obrigados a desacelerar. O “home office” se instalou em nossas vidas e, de repente, nosso closet “abarrotado de firulas” passou a não fazer muito sentido, pois tudo o que queríamos era um bom moletom e uma xícara de café quente. Vestimos nossas armaduras confortáveis e seguimos com nossas vidas, ainda que isolados em casa.
E foi nesse contexto que crianças do mundo inteiro se viram tornar-se adolescentes. Em um cenário de aulas online e encontros via facetime com os amigos, estes indivíduos fizeram da Internet a sua tela em branco, pronta para ser colorida às suas próprias maneiras.
Após a pandemia, o que tínhamos? Muitas telas extravagantemente pintadas, por assim dizer.
A vontade de se expressar e de mostrar quem realmente se era fez brotar um novo tipo de luxo. Aquele que gritava alto por cliques, por curtidas e por visualizações. E como sabemos, nada que é corriqueiro e simplório atrás muitos olhares, não é mesmo?
Para obter tal luxo, era preciso chamar a atenção do seu próprio público (seguidores). Assim, o simples moletom foi pro fundo da gaveta, enquanto que tendências como “Barbiecore”, “Brasilcore”, “Kidcore” e “Lovecore” passaram a dominar os guarda-roupas.
Neste contexto, vimos surgir inúmeras plataformas de venda de produtos por valores ínfimos e de qualidade pouco estimada, tais como Shein e Shopee, colocando em evidência problemáticas como sustentabilidade, plágio de designs famosos, trabalho pouco qualificado e mal remunerado, dentre tantas outras.
Porém, após o que parece ter sido um longo período sabático, o tal do moletom volta à cena fashion. E ele, juntamente com blazers, calças, saias e vestidos de pegada minimalista, passam a representar o que chamo de “respiro fashion” a todo esse excesso estético e a essa profusão de tendências de sufixo “core”. Ufa!
Alguns anos depois do que parece ter sido um avassalador tornado fashion, em nossas vidas, finalmente respiramos um mais limpo ar e vivemos um novo movimento comportamental no cenário da moda, aquele chamado “Quiet Luxury” ou “Luxo Silencioso”.
O conceito do luxo que não grita é a contramão a todo esse “movimento de massa” que surgiu logo após os primeiros anos de pandemia. É o desejo de desacelerar, novamente, mas, dessa vez, de modo voluntário e não obrigados por ninguém ou, muito menos, por um pequeno vírus.
Essa desaceleração encontra respaldo na valorização daquilo que é perene. Submergem-se as tendências cheias de “core” e as suas nuances e voltam à superfície valores como o meio ambiente, o consumo consciente, a mão de obra qualificada e o apreço pelo design.
Marcas como The Row, Brunello Cucinelli e Zegna que sempre fizeram uma moda cheia de sofisticação e peças high-end – mas que, infelizmente, eram despercebidas pelos jovens, uma vez que sua estética minimalista não lhes atraia tantos likes! – agora, encontram-se sob os holofotes da grande mídia, no assunto moda.
Alguns dos grandes streamings têm apostado no luxo silencioso, na criação dos seus roteiros e nas caracterizações de personagens. A famosa série Sucession , da HBO, é um exemplo disso. Diferentemente da série de roteiro similar Dynasty, de sua concorrente Neflix, que retrata um figurino pretensioso, cheio de logomarcas e de maiores extravagâncias, a produção da Home Box Office, é repleta de looks que, na superfície, parecem simplórios, mas são bem pensados e muito, muito nobres.
Trata-se, portanto, de um movimento crescente.
Ainda há demasiada ostentação estética nas redes sociais – e, claro, nas ruas? Sim! Mas, o “Quiet Luxury” vem se alastrando e tomando voz, em lugares, até pouco tempo, tomados pela gritaria do maximalismo, lembrando-nos, pouco a pouco, que o simples é chique.