
Por Elizâgela Sobral, psicóloga
A pergunta é da personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino. Mas uma questão semelhante foi levantada por Friedrich Herbar:
— Onde estão os pensamentos que não estão na nossa mente nesse momento?
Em 1871 Freud lê Herbar, o que contribuiu significamente para a inauguração da psicanálise.
— No inconsciente. Seria uma resposta freudiana, tendo em vista a vez que para a psicanálise o inconsciente não está acessível à consciência, figurando como uma espécie de depósito de conteúdos que contém desejos, impulsos, emoções e memórias que não estão disponíveis para a consciência imediata. O pai da psicanálise também acreditava que o inconsciente protege o sujeito de informações que seriam dolorosas ou ameaçadoras.
O facto é que há um hiância entre o pensar e o sentir, nesse intervalo o silêncio pode ser manifesto.
Há silêncios terapêuticos, necessários, responsivos e que podem servir como forma de introspecção, um modo de elaboração do sentir, do luto, das questões que afetam o sujeito…. um olhar para dentro, talvez uma saída (para dentro) num processo de percepção do que estar a sentir naquele momento. E isso é terapêutico.
Mas há silêncios acumulados, engolidos, silêncio de dores que caminham para um lugar mais profundo, para dentro e podem se transformar em algo muito maior, como um adoecimento, uma angústia. Para esse tipo de silêncio urge uma atenção.
Nesses silêncios, onde se somam outros silêncios, cujas emoções e sentimentos são guardados, jogados para nossas gavetas psíquicas é que pode habitar o perigo.
O convite para esse período, no setembro amarelo – mês da prevenção ao suicídio, é uma provocação. A fala e a escuta são formas de enfrentar o adoecimento psíquico, este é o maior causador do suicídio. A angústia é o ponto nodal, muitas doenças partem da angústia.
Assim, ao falar, o sujeito além de compartilhar sua angústia, escuta-se. Ao escutar sua dor, o sujeito a valida, e algo se move por dentro… é o início da cura.
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