Gentil Cardoso, recifense do bairro da Torre, foi um treinador que se destacou pelos títulos conquistados (em Pernambuco foi campeão pelo Sport, Santa Cruz e Náutico nos anos de 1955, 1959 e 1960, respectivamente). O “moço preto” como era carinhosamente chamado, apesar do preconceito, ficou famoso por frases que se tornaram imortais no futebol brasileiro. Uma delas estaria fulminada pela revolução tecnológica: “Se a bola é feita do couro, se o couro vem da vaca e se a vaca come capim, então, a bola gosta de rolar na grama”. Fazia das frases uma espécie de sabedoria para ensinar aos seus pupilos.
No bojo da era da Internet das coisas, as velozes mudanças tecnológicas mudaram completamente a busca da produtividade e da eficiência em todos os setores da vida social, entre eles, a prática de esportes com destaque para o futebol.
O que não mudou com o ritmo desejável foi a gestão dos clubes. No Brasil, o retrocesso foi de tal dimensão que passa a ser discutível orgulhosa afirmação: o país do futebol.
Para suprir a incompetência gerencial, mais um marco legal – SAF –, foi aprovado no sentido de introduzir visão e desempenhos com padrão empresarial das entidades esportivas.
Por sua vez, a ciência e a tecnologia entraram em campo. É um caminho sem volta. Do VAR, passando pelos avanços na medicina esportiva, adequação de métodos de preparação, aos gramados, se busca atender as exigências de uma competição de alto nível.
Como profissional e adepto do futebol, vivi experiências dentro e fora das quatro linhas bem como venho acompanhando as transformações atuais.
Neste sentido, estou acompanhando também, ainda que como espectador, a substituição dos campos de grama natural por grama artificial. Trata-se de mudança cujos efeitos, se positivos ou não, somente o tempo dirá.
No entanto, a recente contusão do atleta Dudu (Palmeiras) no Allianz Parque gerou séria controvérsia sobre a influência do gramado na gravidade da lesão sofrida.
A irresponsabilidade dos cartolas jamais prezou pela excelência dos campos, do mesmo modo que negligenciou por muitos anos a formação do próprio atleta. Desde a dimensão, aos arquipélagos de terra batida e os traiçoeiros buracos, “os tapetes verdes” fizeram muitas vítimas.
Cabe, desde logo, ampliar o debate. Ora, onde e quando foram utilizados gramados sintéticos e quais os efeitos sobre os sistemas táticos (a velocidade e quique da bola) e, em especial, sobre a saúde e a integridade dos atletas?
Neste debate, vale a pena registrar o fato de que, as sete principais ligas mundiais (Espanha, Inglaterra, Itália, França, Portugal e Holanda) não adotam a grama sintética. Na copa do Catar, o gramado sintético foi o grande ausente.
Em Portugal, os gramados podem ser implantados de forma híbrida. A exceção fica por conta dos países de rigoroso inverno a exemplo da Rússia e da Ucrânia.
Por fim uma exigência incontornável: ouvir a voz dos jogadores. Eis a entrevista do jogador profissional de futebol Sydney Leroux ao “ Vice Sports”: “o jogo é completamente diferente. O jogo é falso. Você não sabe como a bola vai saltar ou correr”. Estas palavras representam exatamente como se sentem os jogadores nos campos sintéticos.
Em recente pesquisa com jogadores profissionais de futebol 100% optam por jogar em campos de gramado natural.
Assim e com todas estas explicações, fica aqui a pergunta: campo de grama sintética ou natural? Nossa humilde sugestão, seria que as ligas de futebol devem investir totalmente em estádios de grama natural bem cuidados. Jogadores, treinadores e público ficariam muito gratos por isso.
A título de ilustração segue os principais estádios do Brasil e seus gramados:
Mineirão = natural
Independente = natural
Arena MRV = natural
Maracanã = hibrida
Allianz Parque = sintético (local da lesão de Dudu)
Arena da Baixada = sintético
Nilton Santos = natural
São Januário = natural
Beira Rio = natural
Arena do Grêmio = natural
Neo Química Arena = natural
Couto Pereira = natural
Arena Pernambuco = natural