
Era noite. Tudo escuro. Homens pastores eram guardados por suas ovelhas. Um fogo de gravetos em chamas cintilantes refulgindo em rostos olhos de pessoas e animais. Não muito longe dali, numa lapinha, uma mulher dava à luz ao seu menino acompanhada daquele que lhe é enfermo de amor: José. Tudo muito singelo e discreto. Não fosse o anjo e a estrela alumiada no céu a proclamar o nascimento, nada mais anunciava a noite revestida de luz. É preciso levantar a cabeça e contemplar os luzeiros acessos nos céus de noite… faz-se necessário e urgente sentir mais além e perceber a insustentável leveza de um anjo.
Era noite e escuro. Um anjo de Deus se apresentou aos pastores envolvendo-os de luz. “Tenho para vocês uma notícia boa e nova, uma grande alegria: nasceu hoje para vocês um menino, o Salvador!”
Sinto asas em meus braços, minha boca é cheia de riso e meus lábios de uma canção natalina. Sou o anjo do alegre anúncio. Digo com o coração bailando e iluminado: “Nasceu hoje para você, um menino, o Salvador do mundo!”.
Nasceu hoje um Menino. Leonardo Boff: “toda criança quer ser homem; todo homem quer ser grande; todo grande quer ser rei. Só Deus quis ser criança”.
Se para o grande e bom poeta Fernando Pessoa, em um dos mais belos poemas de Alberto Caeiro, precisamente o Oitavo Poema de o “Guardador de Rebanhos”, fala de um Menino Jesus que brinca com ele e dentro dele, porém, “era o humano demais para ser Deus”, Boff então nos clareia: “Só sendo Deus para ser tão humano assim”.
“Nasceu um menino! O mundo começa outra vez”, exclama o jagunço Riobaldo quando nasce uma criança que ele ajuda a parir, a dar a luz, virando por um momento, na noite e na caatinga, uma parteira em Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa.
O anjo anuncia uma grande alegria e nos clareia.
Veja, você está agora todo cercado e envolvido de luz. Sinta a mágica de luz e de cores. Do papel da página deste livrinho sai algo mais do que sei lá. Seu rosto está todo iluminado, seu corpo é tomado de uma sinergia envolvente… Você está vendo?
Ontem, há dois mil anos, um anjo apareceu aos pastores. Hoje um anjo aparece a você. Seja menino ou menina, porque só eles podem experimentar, iguais aos pastores, essa visão. Sim, com mente e coração abertos, você de novo criança, abra os olhos e veja anjos dançando nas nuvens cantando glória para Deus e cantado paz, alegria, força e amor a você. Você soltou sua imaginação. Você ver agora. Enquanto a multidão do coro celestial entoa hinos, o meu anjo amigo e o seu anjo amigo, diz a mim e a você a alegria: “Nasceu hoje o um menino”.
Ele continua nascendo em cada criança que nasce, sem exceção, mas teima em nascer naquelas que nascem na miséria, na pobreza e na opressão como Ele nasceu. Sejamos pastores para todas elas, repito, sem exceção, mas principalmente por aquelas que nascem nas periferias dos impérios de hoje como ele nasceu na periferia do império romano em Belém, Casa do Pão, sendo Ele mesmo o Pão, nos ensinando já no mistério da encarnação o que fez no mistério pascal, tomar o pão, partir o pão, entregar o pão, ter fome do pão da justiça nesse mundo de tanta exploração do homem e da mulher, de tanta devastação da natureza e, de avanços da barbárie fascista por parte de alguns grupos e indivíduos.
Veja, você está agora todo cercado e envolvido de luz. Sinta a mágica de luz e de cores. Do papel desse livro sai algo mais do que sei lá. Seu rosto está todo iluminado, seu corpo é tomado de uma sinergia envolvente… Você está vendo?
Ontem, há dois mil anos, um anjo apareceu aos pastores. Hoje um anjo aparece a você. Seja menino ou menina, porque só eles podem experimentar, iguais aos pastores, essa visão. Sim, com mente e coração abertos, você de novo criança, abra os olhos e veja anjos dançando nas nuvens cantando glória para Deus e cantado paz, alegria, força e amor a você. Você soltou sua imaginação. Você ver agora. Enquanto a multidão do coro celestial entoa hinos, o meu anjo amigo e o seu anjo amigo, diz a mim e a você a alegria: “Nasceu hoje o Salvador”.
Nascemos à imagem de Deus. Hoje Deus nasce à imagem do Homem. Deus é carne de nossa carne de agonia e prazer. E por falar na carne de Deus, qual a cor de Deus, hein?
Estava morando na França, eu e Eduardo começamos uma relação epistolar. Escrevíamos sobre tudo. Lá pelo meio das tantas, sendo eu um padre e ele um poeta e um intelectual professor universitário em Fortaleza, começamos a falar de Deus. Eduardo então me saiu com essa: “Qual a cor de Deus?” Respondi-lhe que perguntasse ao meu sobrinho João, com dois anos na época, ele como criança saberia como ninguém a cor de Deus.
Chegou o dia. Com Joãozinho no colo, preferiu perguntar a Pedro, menino de uma sensibilidade fabulosa. Enquanto Pedro colocava a mão no queixo e levantava a cabeça e olhos pensativos, Joãozinho não perdeu tempo e mandou ver: “A cor de Deus?”. E tocando a pele de Eduardo disse. “A cor de Deus é essa aqui!”. Chorei quando recebi a carta com a resposta. A cor de Deus, como canta meu irmão gêmeo Fabiano, o pai dos meninos, a cor de Deus é índio, é negro, é branco é multicolor. Natal… “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós”.