Geração Z fragmenta identidade digital com múltiplos perfis no Instagram

O Instagram, que por anos foi símbolo de imagens impecáveis e perfis altamente curados, vive uma transformação silenciosa entre os jovens da geração Z. Em busca de autenticidade e menos julgamento, eles têm criado perfis alternativos — como os “Dix”, “Daily” e listas restritas no Close Friends — para compartilhar diferentes aspectos de suas vidas de forma mais livre e segmentada. Essa multiplicidade de contas permite a convivência entre um perfil público e outros voltados à intimidade ou a hobbies, refletindo a complexidade das relações digitais contemporâneas.

O “Dix”, por exemplo, funciona como um diário sem filtro, restrito a amigos próximos. É nesse espaço que os jovens se sentem à vontade para postar desabafos, memes ou momentos mais espontâneos, longe dos olhos de familiares e colegas de trabalho. Já o “Daily” é uma versão temática e mais aberta, que trata de interesses pessoais, como skincare, séries ou espiritualidade, com uma abordagem leve e sem o peso da estética do perfil principal. Muitos ainda recorrem à função Close Friends para criar um círculo ainda mais fechado, dentro dos próprios Stories.

Especialistas como a ciberpsicóloga Angelica Mari e o analista de redes Alexandre Inagaki apontam que essa segmentação da identidade digital não é moda, mas sim um reflexo da busca por autenticidade contextual. “Não se trata de falsidade, mas de adaptação às exigências sociais”, afirma Angelica. No entanto, alertam para os riscos do excesso de perfis e da pressão por coerência entre eles, o que pode gerar ansiedade. Ainda assim, quando usados com consciência, esses espaços alternativos servem como ferramentas de autoexpressão e alívio das pressões sociais online.

Com estratégias cada vez mais elaboradas, a geração Z lidera um movimento de resistência à lógica performática das redes. A criação de “feeds zerados”, o uso exclusivo de Stories e a personalização do público em cada espaço mostram como esses jovens estão moldando uma internet menos rígida. Como sintetiza Inagaki, “as redes sociais estão sempre um passo atrás dos usuários — e os jovens já estão três jogadas à frente”.

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