
“Setembro passou
outubro e novembro,
já tamo em dezembro
meu Deus, que é de nós…”
Nesta redondilha, Patativa do Assaré faz uma viagem, na qual o Nordeste inteiro pega carona numa saga em que o Sertão é protagonista, a secura é o mote, e o sentimento é a arrepiação.
Dezembro está batendo na porta, e já vejo a cor encarnada sangrando nas prateleiras e escorrendo pelas ruas dos velhos bairros do Recife.
Papai Noel já está engomando o seu jaleco vermelho e se preparando para encher o saco, de presentes, e sair por aí de chaminé em chaminé! RÔ-RÔ-RÔ…
O Natal é, para alguns, apenas um curralzinho, um calungo com a imagem de Jesus Cristo no colo de Nossa Senhora, dois anjos e um borreguinho ajoelhado aos pés de uma manjedoura. Uma paisagem perfeita para uma fotografia de fim de ano, a ser postada nas redes sociais de quem passa o ano fazendo presepada e no Natal faz um presépio.
O Natal vai muito além disso. O Natal é um flash de Deus, é um facho de luz numa lapinha, onde a essência da palavra rebento vira um substantivo abstrato. O Natal é a hibernação do orgulho, a crucificação da inveja e o calvário do ódio, para aqueles que só sabem o que é amor ao próximo nesta época do ano.
O Natal não é só um panetone; não é apenas um sorriso que ficou travado durante o ano inteiro, e agora mostra os dentes manchados pelo vinho que ficou guardado na adega onze meses, esperando o saca-rolha de Papai Noel para brindar a família e cantar aquela musiquinha: Jingle-Bell, jingle-bell… A delicadeza das lapinhas, os verdadeiros presépios, e os autênticos personagens dessa representação natalina, estão mesmo, é nos morros, nas favelas, nas periferias e nas casas onde moram invisíveis seres; os Joões-Ninguém, sem vez, sem voz e sem vida.