DEUS QUIS TAMBÉM UMA MULHER

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Advento. Palavra do latim: vinda. Sentimento do coração: alegre espera.

Nasci em Currais Novos, porta do Seridó, terra potiguar, do Rio Grande do Norte. A padroeira da cidade é a mesma do sertão: Santana, esposa de Joaquim, mãe de Maria e avó de Jesus.

A imagem barroca banhada a ouro trazida nos já idos 1808, retrata Santana com Maria menina em seus braços com um livro aberto nas mãos. Eu, menino danado e curioso, no meio da missa, puxando a saia de mamãe ou braço de papai, perguntava o que tinha escrito naquele livrinho. 

Multidão grande em frente a Matriz. Queria ver melhor. Papai me levantava bem alto – me emociono agora nos braços parrudos do meu pai – e me dizia qualquer coisa para fazer abrir um sorriso largo em minha cara, um sorriso que somente um menino sabe dar, fazer brilhar os meus olhos com um brilho que somente uma criança de cinco anos sabe olhar brilhando assim. “O Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do baú coisas velhas e novas”. São palavras de Jesus. No baú da minha memória, lembrança nos braços de papai, arrancam lembranças perdidas, coisas antigas do tempo em que a criança era criança e, no meio dessas coisas perdidas me encontro menino e meu pai um jovem pai. Coisas novas, sou criança.

Você pode está se perguntando: “E o advento, a imagem barroca banhada a ouro… e o livrinho?” Desculpas por meus devaneios! Eles e as repetições fazem parte do meu estilo deselegante de escrever.

Só depois de mais um pouco de anos, quando a gente vira coroinha e sobe nos altares para botar velas, flores e a santa no andor, eu fiquei conhecendo a frase: “Um dia a salvação virá”.

Santana e Joaquim, como judeus piedosos, transmitiam, como todos os pais aos seus filhos, a esperança de Israel: a vinda do Messias. Só Deus sabia que essa linda menina um dia seria a mãe do seu Filho. Deus quis também uma mulher. Um dia a menina-moça Maria recebe a visita de um anjo lhe anunciando como a escolhida para ser a mãe do Salvador. No princípio dos tempos o Espírito de Deus pairava sobre as águas e tudo foi criado, na plenitude dos tempos esse mesmo Espírito paira sobre as águas do ventre virginal de Maria e tudo é recriado. Criação e Nova Criação. 

Advento é a preparação ao Natal. A Igreja durante quatro semanas nos mergulha no Mistério da Encarnação do Filho de Deus. Aquele que desceu do céu e veio a terra e se fez para sempre um de nós. Deus enviou seu Filho Amado para realizar uma Nova Criação antropológica e cósmica por meio de sua morte e ressurreição no poder amoroso do Espírito. Essa foi a primeira vinda de Cristo. Fazendo memória celebrativa da primeira vinda de Cristo, a Igreja nos envolve também, na alegre esperança da sua Segunda vinda. Pois bem, se preparando no advento para celebrar no Natal, a primeira vinda de Cristo, nós nos preparamos para sua segunda vinda, quando voltará para plenificar a Nova Criação inaugurada na Páscoa-Pentecoste.

Primeira e Segunda vinda de Cristo. Há, todavia, uma vinda intermediária entre uma e outra. Todos os dias Jesus vem ao nosso encontro em cada pessoa: o pai, a mãe, o filho, o irmão, o marido, a esposa, o colega de trabalho ou de escola e faculdade, o irmão na igreja ou na rua, no doente, no carente de amor, vem, muito especialmente nos pobres, “Vinde benditos de meu Pai porque tive fome e me destes de comer”. Diante da pobreza os cristãos têm dois grandes compromissos. Uma resposta emergente, como as cestas básicas que doamos todos os meses e as esmolas que fazemos e, uma resposta estruturante, a construção de uma  sociedade com justiça social conforme os ditames da Doutrina Social da Igreja  … Jesus vem em cada momento de oração pessoal diária, na leitura orante ou estudada da Palavra de Deus, na Liturgia das Horas, nos sacramentos… Jesus vem bem especialmente na Celebração da Missa, onde em torno da Mesa da Palavra e da Mesa Eucarística,  damos por Ele, com Ele e Nele, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória enquanto esperamos sua vinda.

Para finalizar esta partilha, transcrevo dois prefácios da Missa no tempo do Advento.

Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos ( Advento I).

Vós preferistes ocultar o dia e a hora em que Cristo, vosso Filho, Senhor e juiz da história, aparecerá nas nuvens do céu, revestido de poder e majestade. Naquele tremendo e glorioso dia, passará o mundo presente e surgirá novo céu e nova terra. Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu reino. (Advento I A).

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