A obesidade e o tabagismo representam as maiores causas de morte evitáveis no mundo, trazendo preocupações significativas para a saúde pública. Aproximadamente, 54% dos brasileiros estão acima do peso e 20% atingem o patamar da obesidade grau 1. A obesidade em particular, por ser um fator desencadeador para diversas doenças crônicas, está associada a um aumento na mortalidade global. Nesse contexto, a cirurgia bariátrica emerge como uma alternativa promissora para o tratamento eficaz da obesidade grave. Recentemente, novas diretrizes em discussão no Conselho Federal de Medicina (CFM) buscam ampliar os critérios de indicação desse procedimento cirúrgico, oferecendo mais esperança para aqueles que enfrentam esse desafio de saúde.
As atuais diretrizes para a cirurgia bariátrica foram estabelecidas há mais de 30 anos, em 1991. Desde então, tanto a realidade da obesidade quanto o avanço tecnológico na medicina evoluíram substancialmente. O aumento preocupante dos casos de obesidade no Brasil e no mundo demanda uma revisão dessas diretrizes, com o intuito de garantir um tratamento mais efetivo para a população e alinhá-lo com práticas internacionais.
As novas regras em discussão no CFM têm o objetivo de ampliar os critérios de indicação da cirurgia metabólica, permitindo que pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) a partir de 30 kg/m², que tenham doenças metabólicas importantes, assim como também pacientes com IMC acima de 35 sem necessariamente apresentarem comorbidades, possam ter a oportunidade de acessar o tratamento cirúrgico.Tais propostas são respaldadas em diversos estudos prospectivos que, comparativamente ao tratamento conservador, mostraram vantagens com melhoria significativa na qualidade e expectativa de vida.
A proposta já foi estabelecida e divulgada por entidades internacionais, como a Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Doenças Metabólicos (IFSO) e a Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Atualmente, as cirurgias bariátricas são indicadas para pacientes com IMC acima de 35 kg/m², desde que apresentem comorbidades correlacionadas ao excesso de peso.
A obesidade é uma preocupação crescente para a saúde pública, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Além de questões estéticas, o excesso de peso pode desencadear uma série de consequências graves para a saúde, como hipertensão, diabetes, alterações do colesterol e triglicerídios, e esteatose hepática (gordura no fígado). Os problemas não param por aí. A obesidade pode abrir portas para uma série de outras doenças, como problemas cardiovasculares, depressão, hérnias, apneia do sono, infertilidade e disfunção erétil, além de problemas articulares na coluna, joelhos e tornozelo e o refluxo gastroesofágico.
O cenário fica ainda mais alarmante quando se considera a relação direta entre a obesidade e o câncer. Estudos têm mostrado uma maior incidência de câncer comparativamente à população não obesa, principalmente de tireoide, cólon, ovário, próstata, fígado e outros órgãos. Não há dúvidas de que a obesidade se tornou um verdadeiro vilão para a saúde do indivíduo.
A relação direta entre a cirurgia metabólica e a obesidade é inegável. Homens e mulheres apresentam diferentes distribuições da obesidade, sendo que a circunferência abdominal desempenha um papel crucial como fator de risco. Os homens tendem a ter mais gordura abdominal, dita visceral, enquanto as mulheres têm mais acúmulo na região pélvica. Esse acúmulo visceral da gordura, presente principalmente nos homens, afeta órgãos como o fígado, pâncreas e coração, levando à síndrome metabólica e predispondo a doença coronariana aguda.
A despeito dos avanços farmacológicos no tratamento da obesidade e diabetes, a cirurgia ainda se mostra mais eficiente para o controle do excesso de peso e das doenças metabólicas. Atualmente, o procedimento cirúrgico é de extrema simplicidade, com a grande maioria dos pacientes ficando apenas com 1 dia de internação e se alimentando no mesmo dia. E com um índice de mortalidade muito baixo, em torno de 0,1%, quando se compara com a mortalidade naquele grupo ainda não operado, que chega a ser 10 vezes maior, em decorrência das doenças nas quais são acometidos.
As novas diretrizes e perspectivas em discussão sobre a cirurgia metabólica podem representar um avanço significativo na abordagem dessa questão de saúde pública. É fundamental que essas novas diretrizes sejam respaldadas pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, para que se tornem efetivas e possam beneficiar um número maior de pessoas que necessitam da cirurgia metabólica como opção de tratamento.
O futuro do combate à obesidade está em nossas mãos. É hora de unir forças, implementar mudanças positivas e garantir que todos tenham acesso a tratamentos adequados e eficazes para essa doença complexa. As cirurgias bariátrica e metabólica podem ser a chave para transformar vidas e criar uma sociedade mais saudável e feliz, caminhando ao lado da diminuição dos custos em saúde.