
Um robô guiado por inteligência artificial realizou, pela primeira vez, uma colecistectomia autônoma em tecido humano ex vivo na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. A operação envolveu a remoção da vesícula biliar de oito órgãos humanos reais e foi detalhada em estudo publicado na revista Science Robotics. Segundo Axel Krieger, responsável pelo projeto e financiado pelo governo americano, “esse avanço nos leva de robôs que executam tarefas específicas a sistemas capazes de compreender procedimentos cirúrgicos e agir em contextos imprevisíveis do cuidado real com pacientes”.
O SRT-H (Hierarchical Surgical Robot Transformer), sucessor do protótipo STAR, foi treinado inicialmente em três tarefas básicas — manipulação de agulha, elevação de tecido e sutura — e, posteriormente, alimentado com vídeos anotados de cirurgias para aprender a identificar estruturas anatômicas, como ductos e artérias. Durante o procedimento, o robô recebeu orientações de voz da equipe, “como um cirurgião iniciante sendo orientado por um mentor”, e adaptou-se a variações anatômicas e a alterações simuladas no aspecto dos tecidos. A taxa de sucesso foi de 100%, com resultados comparáveis aos de cirurgiões experientes, afirma Jeff Jopling, coautor do estudo.
Diferentemente da versão anterior, que seguia um plano rígido e pré-mapeado, o SRT-H usa o mesmo tipo de modelo de aprendizado de máquina do ChatGPT para tomar decisões em tempo real e ajustar seus movimentos conforme o contexto cirúrgico. Segundo Ji Woong Kim, ex-pesquisador de Johns Hopkins, “modelos de IA podem ser confiáveis o suficiente para a autonomia cirúrgica, algo antes distante, mas agora demonstravelmente viável”. O experimento marca um passo importante rumo a sistemas autônomos clinicamente aplicáveis, capazes de responder rapidamente a emergências e situações imprevistas.